QUEM SERÁ CHAMADO "FILHO DE DEUS" ( MATEUS 5:5-9)
QUEM SERÁ CHAMADO "FILHO DE DEUS" ( MATEUS 5:5-9)
Mais do que evidente o sentido que se pode aplicar a
essa colocação do Cristo, pois ela vai direto ao Espírito, sem
a necessidade de complexas interpretações.
A mensagem do
Cristo é a da paz incondicional. Por mais que se lhe atribua
atos de intransigência na defesa de suas idéias, não se pode
negar que sua mensagem é inteiramente pacifista.
Em todas as parábolas do Evangelho pode-se ver o
sentido profundo que se pretende alcançar, buscando
colocar o ser humano em contato direto consigo mesmo e
com Deus. A mensagem é de reflexão da própria
consciência de quem ouve, levando-a a debruçar-se sobre si
mesmo. Proporciona um mergulho no si mesmo,
apaziguando toda forma de violência ou de projeção
externa. É uma mensagem de paz, para a paz e em paz.
Além de nos colocar em contato com a necessidade de
nos pautarmos externamente em atitudes de não-violência,
convida-nos ao apaziguamento do nosso mundo íntimo,
muitas vezes em turbilhão, face aos desequilíbrios
alicerçados em experiências desarmoniosas do passado.
A
não-violência não é apenas um comportamento externo,
mas, principalmente, um estado de espírito. Por força das
leis de Deus, nosso estado interior atrai circunstâncias externas no intuito de proporcionar o necessário equilíbrio e
aprendizagem.
A violência externa que nos atinge é fruto da
desorganização interna que nos constitui. Equilibrar o
mundo interior significa não mais necessitar atravessar
processos educativos onde a violência seja componente
As dificuldades externas ocorrem em função da
necessidade de educarmos nosso mundo interno. É o mundo
interno que “comanda” o externo. Nas vezes que
questionamos a Vida sobre o motivo pelo qual ainda
atravessamos certos problemas, devemos nos responder que
continuaremos a vivenciá-los até que nos equilibremos
interiormente.
Considerar os brandos e pacíficos bem-aventurados é
estabelecer que o nosso mundo íntimo deve alcançar o
estado da paz interior como condição para a real felicidade.
A paz interior é o maior bem pessoal.
Há quem
considere a saúde física como o maior bem que se pode ter,
esquecendo-se de que um corpo sadio não garante paz de
espírito.
Outros consideram que a saúde financeira
representa garantia de felicidade, esquecidos de que a paz
interior não se compra, mas se conquista com esforço,
dedicação e persistência no Bem. Ter dinheiro auxilia,
porém não garante a felicidade.
Quando o ser humano encontra-se consigo mesmo leva exatamente suas
aquisições psíquicas advindas das experiências emocionais
que atravessou na vida. Isso sim é seu grande
tesouro. A paz interior, ou o estar em paz consigo mesmo e
com o mundo, concomitantemente, é o caminho da
espiritualização.
Importante dizer que esse estado de paz interior
deverá estar associado à paz com a sociedade, pois pouco
adianta estar bem, porém isolado. O mundo externo é nossa
arena, onde apresentamos quem somos e em que nível
evolutivo nos encontramos. Ninguém é, sem ser no mundo
Estar em paz é, portanto, um ato externo e interno,
simultaneamente. A individuação real se processa enquanto
vivemos em sociedade.
Vivemos numa sociedade em que, muitas vezes,
necessitamos agir de forma mais persistente para
conseguirmos realizar aquilo que nos determinamos, porém
algumas vezes somos obrigados a atuar com certa
veemência na defesa de pontos de vista importantes. Nesses
momentos, é imprescindível a paz e o respeito às idéias com
as quais não concordamos. Intransigência e intolerância não
combinam com a brandura e com a paz. Diante da
competição, seja de idéias, de posições sociais ou por
qualquer motivo, é indispensável a solidariedade.
Se somos intransigentes com algo, que o busquemos
com a determinação equilibrada. Nela navegaremos seguros
frente ao desequilíbrio porventura existente no outro. A
recomendação do Cristo é fundamental nos momentos de
desafio que a vida nos coloca.
Num sentido psicológico, o Cristo nos convida a
colocar a mente a serviço do "Self", com seu senso de
organização e propósito de crescimento. O ego, por não
querer perder o poder que desfruta, entra em contendas
externas desequilibrando nosso mundo íntimo. A brandura é
o restabelecimento do equilíbrio necessário entre o ego e o "Self". O eixo ego-Self responde pela harmonia interna.
Enquanto ele estiver alinhado temos a garantia de paz
interior. Quando conseguirmos colocar o ego a serviço do
Self, isto é, dirigir a função psíquica central da consciência
para propósitos alinhados com o Espírito, alcançaremos o
endereço da paz
O recado do Cristo serve para o mundo psíquico
sempre que percebemos que seguir propósitos exclusivos do
ego torna-se fator de desequilíbrio. Ao contrário, perceber
os propósitos do Self é garantia de seguir no rumo certo.
Ambos, ego e Self, devem estar sintonizados a serviço do
Espírito, verdadeiro piloto da mente. Quando o Espírito
toma a decisão de se orientar pela onda da paz e do amor, o
Self passa a estabelecer princípios de organização e direção
voltados para o Bem. Resta ao ego acostumar-se à nova
ordem interna vigente. Inicialmente haverá o conflito entre
os desejos do ego e as orientações do Self. Porém, à medida
em que os embates das experiências externas reduzirem o
poder do ego, os objetivos começarão a ser alcançados.
O mundo tecnológico influenciou sobremaneira as
relações humanas, provocando, até certo ponto, um
distanciamento entre as pessoas. As relações se tornaram
mais frias e distanciadas de um verdadeiro encontro. Há, em
verdade, mais desencontros que encontros. A mensagem do
Cristo propõe um reencontro com o carinho e a doçura,
esquecidos pelo homo sapiens sapiens. Ela nos convida a
formarmos um novo ser humano, aquele que provavelmente
teria a alcunha de homo sapiens sapiens ‘emotiones’. Do ser
humano intelectualizado para o ser humano
emocionalmente evoluído
Um gesto de carinho, muito mais do que proporcionar
a intimidade com alguém, estabelece uma ligação pelo
coração, onde o entendimento pode se dar de forma mais
harmônica. Nesse sentido, quando, de alguma forma,
entrarmos em contato com uma pessoa, deveremos chamá-
la pelo nome e tratá-la com o respeito e a dignidade que
todo ser humano merece. Evitar tratar as pessoas por títulos,
cargos, alcunhas ou pela função que exerce naquele
momento.
O carinho e a doçura estarão presentes sempre que nos
preocuparmos com que a nossa fala eleve o outro, isto é,
faça-o sentir-se bem. Perguntar-se sempre antes de falar: o
que vou dizer é construtivo ou não? Vai melhorar a relação
vigente entre nós? Vai favorecer a mim mesmo e ao outro?
São perguntas importantes para os objetivos a que nos
propomos, isto é, de crescermos interiormente e nas nossas
relações interpessoais.
Ser carinhoso e ser doce com as pessoas é o mesmo
que não as expormos aos nossos conflitos íntimos nem
submeter-lhes ao fígado dos nossos desequilíbrios internos.
É poupar-lhes o dissabor de servir de descarga das nossas
emoções desarmonizadas. O Cristo nos convida a
harmonizarmos a mente com o carinho e a doçura internas.
Tratar bem dos nossos conflitos, dando-lhes a atenção
devida, é garantia para o equilíbrio psíquico que desejamos.
Agir com paciência diante dos outros é nossa
obrigação e dever de quem deseja melhorar-se a cada dia.
Porém, precisamos entender que devemos paciência para
conosco mesmos. Cabe-nos considerar que não é possível
resolver numa internalização, problemas estruturados em
várias outras experieências. Precisamos ter paciência com nossas
imperfeições, tanto quanto com as dos outros. A exigência
de ser perfeito de forma rápida, pode tornar-nos impacientes
para conosco mesmos.
A paz interior não é um conceito mental nem surge
simplesmente do controle dos pensamentos, mas nasce da
abertura para assumir-se com seus conflitos e na
determinação em solucioná-los. Negar seus problemas,
comportando-se de acordo com um modelo ideal propagado
por sistemas filosóficos e religiosos, é fugir da paz interior.
O único caminho eficiente para alcançar esse propósito é a
coragem de olhar para dentro de si mesmo.
A paciência, no sentido psicológico, é a capacidade de
adiar uma ação ou uma reação. Esse adiamento pode levar
segundos ou até anos. A ação ou reação não devem se
constituir em simples respostas aos estímulos ambientais,
mas, principalmente, em sua percepção e na adição de
respostas contendo valores morais superiores.
O caminho da evolução espiritual é o da amorosidade.
Amorosidade nas relações com as pessoas, consigo mesmo
e com a Vida. Ser amoroso é tratar as ocorrências da vida
como processos a serem vencidos com determinação e
tranqüilidade. Os reveses, tanto quanto as alegrias da vida,
não são ocorrências definitivas nem o fim em si do viver,
são tão somente experiências que nos capacitarão à vida
verdadeira, a espiritual. Viver essas experiências com amor
é garantia certa de aprendizado.
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